top of page

Sobre os arrozes de minha vida

Passei por muitos arrozes, (sim, soa estranho, mas esse é o plural de arroz!). Lembro que quando pequena minha mãe fazia arroz amarelo, nem tinha sazon ainda, era cúrcuma mesmo.

Outro arroz que me marcou foi na casa de uma antiga amiga (digo antiga porque perdi contato, nunca mais vi). Na casa dela se fazia arroz com cebola e pimentão vermelho picadinho em cubos. Ficava tão bonito! Aquele arroz amarelo, que desta vez, já era sazon e aqueles cubinhos vermelhos. Eu gostava mais das cores do que do sabor.



Mais pra adiante na vida, uma outra amiga fazia arroz branquinho, só que quando apagava o fogo, jogava salsinha picadinha por cima e tampava de novo. Minha avó Maria, mãe de meu pai, fazia arroz branquinho. Ficava horas fritando o arroz na panela, soltinho sempre, mas o que eu mais gostava dela era o feijão. Bom, feijão é outra história, vai ficar pra um outro texto. Meu pai, quando eu era criança fazia um arroz ao vinho, ficou tão marcado isso na minha memória! Primeiro porque eu criança era proibida de comer muito, pois tinha vinho, aí que eu ficava meio triste, pois era um arroz tão bonito, grãos grandes e lilases. Arrozes lilases. Ficou até bonito essas duas palavras em plural juntas, né não?. Quase poesia.

A primeira lição que tive de comida foi fazendo arroz. Eu tinha uns 12 anos, Dona Dalva estava em casa comigo. Ela era diarista e muito de vez em quando ela vinha pra limpar nossa casa - assim minha mãe poderia descansar um pouco mais no domingo, seu único dia de folga. Me lembro que estava fazendo o nosso almoço, e tentava pela primeira vez fazer arroz, ela ficou só me olhando pra que nada desse errado. Na hora em que joguei a água, fez aquele estalinho gostoso do caldo frio em contato com o fundo da panela bem quente. Muitos grãozinhos grudados na parede da panela. Dona Dalva delicadamente segurou a minha mão e conduziu junto comigo com segurança a colher de pau em volta de toda panela pra garantir que todos os grãos caíssem na água e cozinhassem. Sem dizer uma só palavra, com toda delicadeza me mostrou que nada na cozinha pode ser desperdiçado e que eu devo sempre olhar para todos os cantos da panela e garantir que tudo que esteja dentro dela seja cozido como tem que ser. Nunca vou me esquecer disso. Lição de cozinha pra vida. Mas o arroz da minha vida, é o arroz que minha vó Cota, mãe de minha mãe fazia. Gostava tanto do arroz dela que quando eu era criança, numa analogia meio louca, falava pra todo mundo que o arroz que ela fazia tinha gosto de pudim. Eu gostava tanto de pudim e gostava tanto do arroz dela, que na minha cabeça de criança essa lógica era perfeita. Ficou conhecido na família, como arroz de pudim. Ela não gostava nada de cozinhar e por preguiça ou falta de vontade da cozinha, colocava na banha de porco (sim, antigamente ela só cozinhava com banha de porco!) jogava lá dentro um ou dois dentes de alho inteiros, bem mal descascados e deixava eles quase queimarem. Depois jogava o arroz lavado e fritava sem muita paciência. Salgava, colocava água quente e tampava. O grãos ficavam grandes, um pouco aberto no meio, molhinhos, soltinhos e deliciosos. Adorava esse arroz com o caldinho do "frango afodaginho" que ela fazia domingo após domingo de almoços em família. Ela fazia aquele prato com perfeição de tanto repetir na vida. Continuo fazendo até hoje arroz com alho inteiro quase queimando. E não há nada mais gostoso do que encontrar no prato aquele dente de alho cozido, dourado e doce. Quase um pudim.






 
 
 

Comments


bottom of page