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Luxúria e gula



"Na Idade Média, a luxúria passa a ser cada vez mais associada à gula, mas a civilização dos costumes alimentares irá progredir de acordo com dois caminhos diferentes. Por um lado, por meio de um regime dietético, em geral oriundo das práticas alimentares monásticas e, por outro lado, através da busca – nas classes superiores da sociedade, nobres e burguesas, mas também eclesiásticas – dessa forma de refinamento que transforma a alimentação em cultura, a cozinha em gastronomia.

Manuais de receitas culinárias nascem entre os séculos XIII e XIV. Toda uma arte culinária vem juntar-se à arte de amar, lisonjear e desejar que anima as mesas burguesas, assim como as das cortes europeias.

Uma civilização do corpo instala-se com as artes da mesa e as boas maneiras. Proibição de cuspir, de assoar o nariz, de oferecer a um conviva um pedaço que se tenha previamente mordido...

A Idade Média civiliza as práticas alimentares. Não se come mais estirado, como entre os romanos, mas sentado. Com os dedos, é verdade, mas de acordo com regras estritas, à imagem dos comedores de carneiro assado em pedaços na esfera cultural islâmica. Uma distância conveniente entre os convidados também é algo a respeitar. O ápice material dessa “civilização dos costumes” será a invenção do garfo, que, após a Idade Média, virá de Bizâncio, via Veneza. "

Trecho de O Livro do Amor, de Regina Navarro Lins. Lançamento: 2012.

Ilustração de Cyril Satorsky

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