Do milho pra pamonha
- Viviani Leite
- 15 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

Vale a pena dar uma exploradinha na história deste grão originário das Américas e muito comum na nossa alimentação cotidiana.
Pra gente ter ideia da importância do milho, o sociólogo Carlos Alberto Dória propõe uma análise, grosso modo, que divide o mundo em três grandes regiões em que a base alimentar é feitas por cereais: o trigo na Europa, o arroz na Ásia e o milho na América.
Mas engana-se quem pensa que no Brasil o milho era um alimento popular entre os nossos indígenas, Câmara Cascudo, no seu livro A História da Alimentação no Brasil (minha bíblia!), no capítulo em que traz à tona as contribuições indígenas na nossa culinária, deixa claro que embora o milho tivesse espaço na alimentação dos índios brasileiros, ainda assim, eram bem menos consumidos do que a mandioca “(...) não atingem o posto da indispensabilidade. Sua utilização mais ampla verifica-se com a gula portuguesa que o valorizou imediatamente ao conhecimento. E a indiada do interior, desde que se fixada no ciclo do seu nomadismo circular, tinha no milho assistência gostosa e boa.” (pág. 107). Assim a gente pode perceber que foi nas cozinhas portuguesas que aqui se instalaram que o milho, junto com ovos, leite e açúcar se transformou em bolos. Antes disso, era ração para os animais da fazenda e uma espécie de mingau para os índios. Aliás, o milho aqui foi durante muito tempo, mais bebida do que comida, dele se fazia uma espécie de vinho, o abatii, fermentado através da mastigação as cunhãs da tribo, depois misturado á agua e fervido. Ainda hoje, quem viaja para diversos países da América do Sul, pode provar em muitas casas a Chicha, uma espécie de suco que, hoje em dia, pode ou não ser alcoólico.

Os índios usavam o milho quase como um mingau, e à este mingau eles davam o nome de pamunã, que significa pegajoso em tupi. Segundo alguns estudos a pamonha se popularizou na culinária da região centro-oeste mais precisamente em Goiânia, onde a pamonha ganha recheio de linguiça e queijo. No Nordeste a receita ganha leite de coco. Em Minas e na região vale-paraibana, a mais comum é a doce, aliás em algumas cidades de nossa região, a pamonha é enrolada na folha do caetê e não em sua própria palha. Taí uma questão que eu tô tentando descobrir: porque a pamonha em nossa região é enrolada no caetê? Alguém pode ajudar?
Segundo João Rural, o rito da Pamonha é uma tradição no meio rural, para comemorar a colheita do milho (planta-se em janeiro, colhe-se em junho) em que as famílias e os vizinhos se juntavam pra fazer a pamonhada e como dá um trabalhão, compensava fazer muito de uma só vez! Tradição esta que cada dia perde espaço. Aliás, nas grandes cidades as novas gerações nem sabe que isso sequer existiu!

O fato é que a pamonha está se transformando, ninguém tem mais tempo pra fazer a Pamonhada (Se vc conhecer alguma família que faz, me apresenta? Necessário fazer um registro!) e se a gente procurar, vai encontrar no google um monte de receitas de pamonhas agora de um jeito mais simplificado, afinal temos liquidificadores, processadores e até pamonha delivery ( tem, pode apostar!) e é bom que tenha mesmo, porque pamonha é bom e esse gostinho a gente não pode deixar se perder no tempo!
Curiosidades:
- Nas sociedades incas, maias, astecas e chibchas, o milho era a base da alimentação e, tão importante que existe uma deusa asteca que hoje é a Deusa do Milho no México, chamada Tonacayotl, que significa o que nos sustenta, nossa carne.
- Junho, mês do São João é o mês do milho. “Festivo e sonoro da pipoca ao bolo. No Império dos Incas, era a Páscoa do Sol, colheita do milho dominador.” Segundo Câmara Cascudo.
Texto originalmente publicado no site Artekula em 2013
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